Buscando um novo rumo...
Um lugar distante, só meu. Não há ninguém por perto. Uma casa, e eu sei que é pra mim, sei que ela está lá pra mim. Eu entro, e as paredes são verdes. As janelas de madeira estão pintadas de roxo. Tem uma cama dentro do quarto, baixa, de aço, daquelas de hospital em filme da Segunda Guerra Mundial. Num armário velho e tombado em um canto, uma vitrola. E alguns discos. Escuto a voz de Billie Holiday arranhar o silêncio. E vejo que, embaixo da janela, há um baú. Velho, as arestas cor de cobre desacascadas. No baú, um diário. Um diário que conta toda a minha vida, em detalhes. Todos os erros, os acertos, tudo aquilo em que eu procurei não pensar está ali, escrito e registrado. Meus amores, minhas dores, minhas mentiras. Momentos em que eu não me orgulho de mim. Leio, paro, rôo as unhas. Tento dormir. Pego o diário de novo. Saio para dar uma volta. Volto a ler. Começo a rir, descontroladamente. Pulo capítulos. Largo novamente a leitura. Respiro fundo. Leio os capítulos que pulei. Sorrio involuntariamente em certas passagens. Dou socos na parede de ódio de outras. Mas continuo lendo. Sinto medo, vergonha, orgulho, alegria e a mais profunda tristeza enquanto mudo as páginas. Mas não posso mais parar de ler. Leio a descrição desse mesmo quarto, e do mesmo baú. Viro a página, e está tudo em branco. Aí penso.
Cada folha é originalmente branca. Cada folha originalmente, não contém uma história. Cada história não é feita de folhas, mas sim de palavras. Cada vida não é feita de dias, mas sim de escolhas. O problema é quando a gente tenta escrever por cima do que já passou. Ou quando a gente espera demais, e quando vê, o livro acabou. E a gente não escreveu nada.
Cada minuto, cada página é uma nova chance. A chance de uma vida.