quarta-feira, 23 de maio de 2012

Asas



A sensação de flutuar sem graça
De voar desgovernada
De ter em mim aquelas que não são
Minhas asas
De planar, me debatendo desorientada
Buscando no horizonte um destino que não seja
Aquele que a direção do vento me dita
Um destino que não me deixe tão cansada
Meu olhos doem
Minha voz dói
E flutuo com a simples intenção
De não afundar
Talvez um dia eu volte a voar
Ainda que com as asas quebradas

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Hoje, nos cinemas



Cansada de ser fantasma
De viver a vida nas margens
Esquecível
Irrelevante
Figurante no seu próprio filme

Em cartaz
“A história da menina que não existia”
Visto por exatamente uma pessoa
Que chorou ao final
Saiu da sala
Sumiu no mundo
E ninguém mais sabe como o filme acabou 

terça-feira, 8 de março de 2011

Desatinada



O que eu peço do amor
É que não seja perfeito
Nem do meu, nem do teu jeito
Só querer
E ser
Amar, enfim
Alguém que sinta
Que veja
Veja mais no meu sorriso do que há
para se ver
Que me ache encantada
Que me ache linda desgrenhada
Unha roída
E cara lavada

E me queira, ainda que desatinada
Me queira mais que o jogo
Queira mais que o mundo todo

E eu vou,
Meu bem, quer quem você seja
Eu vou
Já estou lá

domingo, 15 de agosto de 2010

Cartas de (des)amor II

Conheci alguém novo hoje. Sorriso bonito, olhos sinceros. Não usava estúpidas sandálias. Ele podia me amar. Eu sei que podia. Mas eu não sei mais amar. Eu nunca soube. Eu só soube amar você.

Eu era a menina que acreditava que amar era um talento. Um talento adquirido. Amar era abstrair. E sempre me julguei racional demais para abstair. Então não amava. E não vou te dizer o quanto foi que eu amei você. Se o que vivemos não foi o bastante para mostrar o que foi tudo pra mim, então realmente não foi o bastante. Nunca é o bastante, não é?

O fato de ele poder me amar não é o bastante para que eu o ame. O fato de eu te amar não foi o bastante para que você ficasse. E eu me pergunto, seu amor vai ser o bastante pra ela? O amor dela vai ser o bastante para você?

Eu só sei amar bastante. Mas nunca o bastante. Nunca o bastante.

E é por isso que escrevo para fantasmas. Não escrevo pra você. Escrevo para quem eu era pra você. Por você. Eu finalmente aprendi a chorar. Não por você, mas pela tentativa.

Não sei se posso continuar a arriscar. Mas também não posso ficar parada, posso?

Odeio você por ter roubado de mim mais do que os dias, as horas. Mais do que o tempo.

O mundo, como eu conhecia.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Cartas de (des)amor I


Eu me lembro das coisas mais ridículas. De como eu me sentia livre quando você me deixava pular nas suas costas. Beijos no ombro nu. Das risadas mais inapropriadas e dos olhos de menino. Faceiro. Você odiaria essa palavra. Diria que é depreciativa. Diria que meu palavreado te assassina. Mas é assim que eu te vejo. É assim que eu te via. É assim que eu sempre vou te ver.

Tive que jogar seus discos e as fotos fora. Espero que não me odeie por isso. Não suportava mais um dia olhando pros teus gostos, lembrando dessa tua voz meio trêmula, meio incerta. Mas não quebrei teu violão. Não tive coragem, parece a mim que tem vida, que a tua música vive nela. E matar a tua música eu não podia. Mas espero que não venha buscá-lo. Doeria demais.

Eu lembro de tudo, com clareza doída e insana. Lembro do dia bonito que eu sentei naquele banquinho na praça, escondida atrás da cópia destroçada de tão lida de Sagarana, meio querendo existir, meio querendo me fundir com a paisagem. Dicotomia da existência. Era o que você dizia. Que eu existia querendo ser ouvida e evitando ser vista. Não faz sentido, faz?

Mas você parou do meu lado, todo sorriso e cabelo comprido demais caindo no olho. Te achei engraçado. Te achei inusitado. E você me viu mesmo através da camuflagem. Você usava sandálias. Odeio homem de sandálias. Mas em você achei legal. Achei diferente. Com você, era tudo diferente. Até o fim.

Ah, o fim. Ela é linda, meu querido. Bonita como o dia. Queria dizer que espero que sejam felizes. Mas seria mentira. Queria ter apreciado tua sinceridade. Mas não importa a delicadeza quando as palavras são pequenas navalhas. Elas (as feridas) sangram, não importa quão lentos ou superficiais sejam os cortes.

E eu te digo que enfim as flores que plantamos no jardim começaram a florescer. E não, isto não é uma metáfora. É a vida.

A vida não é uma metáfora. Nem quando se fala sobre rosas.

Desatinou


Deixa agora que eu  cante
Se soubesse cantar
minha lista de desejos
o lirismo do teu beijo
a vontade de ser nem eu
ontem ou amanhã
só hoje
nem um pouco
meio louco
meio de sopetão
só tua
e só, meu bem

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O retrato

Pinta-se na parede
Camufla-se em padrões
Sou eu, a parede do quarto
As flores na colcha
O quadro na sala
Pintada a guache
Retocada a óleo
Um quadro fora de esquadro
O retrato
Lentamente envelheço
Meu retrato permanece igual
A lembrança de tudo o que deixei de fazer
Simbolismo intransigente
Dos erros que deixei de cometer
Dos sonhos que deixei escapar

Sou Dorian Gray ao contrário

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Limbo


Sente, cresce, morde, sente
Dói, passa, dói, mata
Sei, sou, sinto, vou
Fico
Mais um dia
Mais um minuto
E o tempo não para de passar