sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Caros amigos de outrora (uma amizade perdida)

Caros amigos de outrora,

Saibam que os amo. Mesmo que não me entendam. Mesmo que eu não os entenda. Mesmo que tenha ficado tanto a ser dito.

Saiba que ainda lembro, e que ainda sinto. E que me dói a distância. E que apesar de tudo, e de nada, eu jamais vou esquecê-los.

Embora já não se lembrem de mim.

O que mais dói não são os erros. Meus ou de vocês. Ninguém é inocente. O que mais dói é o quanto tudo foi descartável. Como se fosse reciclável. Como se realmente não fizesse a diferença. E não é. Pra mim, não é.

Quando achei que a noite ia me engolir, o silêncio de vocês, caros amigos, foi quase ensurdecedor. Queria tanto explicar o que eu não podia, o que eu não queria, o que eu não sabia. E o quanto eu sentia muito tudo isso. Mas já é tarde. E falar para quem já não escuta é cantar para as paredes. Todos nós sabemos no que acreditar.

Tudo o que tenho para oferecer é o desejo de que tenham uma boa vida, caros amigos de um dia.

Deixo, como lembrança para vocês, o meu afeto, embora este já não lhes sirva de nada.

Vejo-lhes um dia no passado, já que ele é tudo o que restou.

Adeus

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A Redoma de Estanho (ou Way to Blue)


Me diga, alma minha
O que Shakespeare diria
Se vivesse no tempo
Onde um olhar significa tão pouco
E o eterno se perde em cada esquina?

Ela nunca quis ser bela
Ela só queria
Que um estranho um dia lhe perguntasse
'Mas, na verdade, quem é você?'

Ela não sonha com o príncipe encantado
Ela não quer ser salva do fracasso
Ela só queria que alguém entendesse
Que existe algo além do que se vê

Mas ninguém se importa
Ninguém se pergunta
'E quem é a menina?'
do olhar triste
da boina verde
e das velhas sapatilhas xadrez?

Ela queria ser bailarina
Quando pequena.
achava que quando chovia,
São Pedro chorava
E à noite, escondida em seu quarto
escutando Nick Drake bem baixinho,
ela sonhava com o dia
Em que o coração ia disparar
E as palavras teriam significado

E o que ela diria?
Talvez contaria de si
Ou ficaria sentada a ouvir
Mas isso, ninguém nunca vai saber
Portanto, então me diga , alma minha.
O que você acha que Shakespeare diria?





segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Holden Caufieldianismos


Gelo
Um copo de gin
A solidão da multidão
Mais um dia perdido na cidade
Os olhos que observam
Os corpos que se cruzam
mas não vão além do que se vê
Conversas vazias
Piloto automático
Mais uma dose, por favor
e aplausos para as aparências
Papo de calçada
Não há nada novo
Não há nada além do convencional
E eu ando
e eu faço parte
e eu me sinto longe
espectadora de um espetáculo previsível
Mais um dia perdido na cidade
Que nunca dorme
Nunca entende
e nunca perdoa

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Push the F button

Abandone as noções
Os pré requisitos
os hífens
as reticências
descomplique
desencane
faça menos
ou mais
o que importa
é não se importar

Produtividade é a prisão dos outros.

No meu dicionário, a palavra da (des)ordem é

Viver, e nada mais.

O resto, pode ir pro inferno. Ou pro céu.

Não faz diferença.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ele nunca disse eu te amo


Passos. O ritmo de passos. Ela conhecia o ritmo daqueles passos. Hesitantes, arrastados, livre de sutilezas. Olhou mais uma vez pela janela. Quantas vezes pode se olhar o mesmo cenário sem sentir que não há mais nada para se ver?


Quantas vezes pode se olhar para a mesma vida sem sentir que ela perdeu o sentido?


Ela sonhava em ser bailarina, mas nunca aprendeu a dançar. Queria ser trapezista, mas tinha medo de altura. Queria ir embora com ele, fechar os olhos e se abandonar aos sentidos. Ele. Não os outros. Passo largo, decidido. De uma gentileza arredia, daquela que não se perde em palavras e gestos grandiosos. Mas que está lá, sem a necessidade de explicação, e de palavras vãs como amor, coração e ternura. De um magnetismo tão forte que era como se, na presença dele, ela fosse toda retalhos. Pedaços de si mesma, indefinida e invencível. Dividida e completa. Pedaço de si mesma nele. Ele. Olhos verdes. Jaqueta de couro. Cheirava a tabaco e grama molhada. Um rabisco num guardanapo. Ela sabia que ele não podia ficar.


Não sei o que te prometer, o futuro é nosso até que você diga o contrário. Só venha.


Venha.


E ela quase foi. Mas parou, ponderou e avaliou. Não era assim que deveria ser. Príncipes não cheiram a tabaco. E ela não foi. Repetiu pra si. Não é assim que deveria ser.


Ele nunca disse eu te amo.


Rabiscou uma resposta.


Não.


Um dia, ela encontrou alguém. Sorriso fácil, rosas vermelhas, todo palavras e elogios. Passo hesitante, arrastado, livre de sutilezas. Boas maneiras, cheiro de colônia. Um bom homem.


Eu te amo.


E ela se convenceu que era assim que tinha de ser.


E agora se pergunta, a ouvir os passos hesitantes na soleira:


Onde estará a alma que ela abandonou num pedaço de guardanapo?



segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Clara


Ela gosta de lugares vazios
De dias cinzas
De paredes sem reboco e tinta
De verdades nuas e cruas
O som de unhas arranhando o quadro negro
Mantém os cabelos sobre a face
As sobrancelhas arqueadas
Selvagem
Intimidante
Unhas pintadas de preto
Bebe uísque duplo sem gelo
Como poucas
Como outras
Ainda assim, como mais ninguém

O nome é Clara
Uma leve ironia,
A subjetividade do destino
Nunca pôde ser donzela
Nunca pôde ser indefesa
A vida tornou impossível
Sonhar leves sonhos de papel
Sem que a água
Doce, pura e cristalina
Desfaça suavemente
A ilusão que se criou

Clara, seja forte
A vida é um jogo
O mundo um bueiro
Clara, minha cara
Não impeça as paredes de ruírem
Pesadas
Ásperas
Abrace o caos
E sinta na pele
O peso da escolha
De ser o que os outros não são
Indefinida
Indomável
e livre dos outros
mas prisioneira de si

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lembranças e um maço de cigarros


E o que você fará agora?

Vai dançar na chuva descalço?
Beber vinho barato na calçada?
Inventar um sonho novo?
Ler o mesmo livro pela décima vez?
Gritar até a garganta doer?

Vai querer estar sozinho?
Vai chorar por estar sozinho?
Vai lembrar da infância
e pensar que foram os melhores dias?

Vai encontrar os amigos
e rir até a barriga doer?
Vai olhar pra trás
e achar que está mais sábio?
Vai pensar em mim
e achar que valeu a pena?

Vai sorrir de leve
Fechar os olhos por um segundo
E mais uma vez
Só mais uma vez
pela última vez
Me diga, vai pensar em mim?

E eu, o que vou fazer?
Não sei
Talvez eu vá embora
Carregando comigo lembranças
E um maço de cigarros
Pra lembrar da vida que tem fim
Mas nunca acaba



sexta-feira, 10 de julho de 2009

O tênue (a sentença)


Nunca pensei no nascer do sol. Em ficar sentada admirando o momento em que ele surge. Nunca pensei em muitas coisas, na verdade.
E a verdade, é que eu quase não penso mais em você. Quase.
Eu só penso no quase.
No dia em que eu quase disse não.
O dia em que eu quase disse sim.
O dia em que eu podia ter saído, mas fiquei em casa.
O dia em que eu podia ter escolhido o caminho mais longo, e cortei pelo atalho.
O dia em que eu desisti de tudo.
O dia em que eu decidi que não valia a pena.
Que ia passar.
Que tinha que passar.
Não é que me atormente.
Eu sei que fiz o que pude com o que eu não podia saber.
Mas é o quase que me mata um pouco
Que leva um pedacinho
Um quase pedacinho
Pra longe
Porque foi quase
Por um triz
Você não me fez feliz
E vice-versa

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Pílulas e um copo de vodca



E eu sei que você acredita que nós
não pertencemos mais a esse lugar
E o pior que podemos fazer
É continuar a fingir que nos importamos

Deixe-me entrar, deixe-me afogar
Ou ao menos aprender a nadar
Só não me deixe sozinha
Eu poderia ser sua próxima melhor amiga
Você pode precisar de alguém por perto

Hey, sonâmbulo, não seja tímido
Não abra seus olhos esta noite
Você será aquele que irá lutar por mim
Enquanto eu estiver sonhando acordada?

quinta-feira, 21 de maio de 2009

As luzes (a garota no metrô, ou a despedida)


Os olhos perto de mim
Os braços que me soltam
Já não mais me aparam
Não me impedem de cair
de tropeçar
Os faróis ofuscantes
Cada vez mais perto
Mais perto
A luz que cega
Os olhos que se fecham

Hey, vamos tomar um café
Tocar violão
Trançar as pernas na cama
Cantar desafinado
Vamos ficar bêbados
Esquecer que é dia
Que é quarta-feira
E existir
Longe da luz ofuscante
Dos faróis que se aproximam
Tão perto
Tão perto
Que cegam

Hey, não solte a minha mão
Não me deixe mais cair
Tropeçar
Não me deixe mais fugir
Hey, não vá
Não vá
Não leve embora o seu moletom azul
O cheiro de incenso
Os cachos que dançam
Os olhos que dizem
Tanta coisa
Eu sei que você tem que ir
Sei que as portas vão se abrir
E eu vou olhar pras suas costas
e com pálpebras pesadas
num supiro
Ora sereno, ora puro desespero
Vou deixar você partir
Mas não me impeça de pedir
Que não vá

E se for, não olhe pra trás
Não, não olhe pra mim
Só vai
Me deixa esquecer
Não me deixa lembrar
Dos faróis que cegam
A luz dos olhos

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Pequenos contos dela

(Foto by www.flickr.com/photos/littledonna)

Sentada na cama.
Trançando pequenas mechas dos cabelos longos
Vermelhos escuros
A camiseta desbotada, a gola esgarçada
estampa do Bowie
O cheiro
O cheiro dele
a manhã meio pálida

Os joelhos juntos, os pés separados
A meia listrada
as mãos nervosamente cruzadas, descruzadas
Apoiadas no queixo, nas têmporas, nos lábios
ela descasca o esmalte das unhas, pintadas de azul,
um azul elétrico
pra disfarçar o nervoso
a falta de jeito
a vontade de rir
chorar
sair correndo
e ficar pra sempre

Ele chega sorrindo
calça larga xadrez
vermelha e verde
o riso meio sem graça, meio de lado

- Quer café?

Ela quer.
Quer pular no pescoço dele
morder
apertar
beijar
quer tanto, tanto
que, paralisada
só olha

- Uhum. Brigada.


A noite que já foi
que começou com um sorriso
aquele sorriso
meio sem graça, meio de lado

- Tem um isqueiro?

Ela deu um gole na cerveja
do gargalo
um sorriso rápido
emprestou o isqueiro
mordeu os lábios
queria conversar
ele parecia alguém com quem conversar

- Bonita a tua camiseta, ela disse.

A camiseta do Bowie
desbotada e esgarçada na gola
na jukebox no canto do boteco
Lovesong

- Gosta de The Cure?

- Pefiro Smiths

Ela responde
Toma coragem
e olha nos olhos
por segundos esquece de respirar
e vira o rosto
naquele riso tímido
de quem não sabe o que dizer

Ele senta-se ao lado
Eles conversam
Nada muito profundo
ou elaborado
sem grandes pretensões

- Quer dar uma volta comigo?

a cabeça não ouve
a razão não pára
Você vai se machucar
Só você vai se machucar
E tudo que ela pensa
Me dê uma razão para dizer não
Pra não sentir
Uma razão
que faça sentido

E ela vai
Sente
esquece
de tudo
dos motivos
das razões
dos prós
dos contras
só o cheiro
textura
sentidos
os olhos
a respiração
as mãos
ele mexeu em seus cabelos
até ela dormir

Agora está sentada na cama
a cama dele
e já é manhã, ainda que meio pálida
Ele deita
apoiado nos travesseiros
acende um cigarro
coloca o cabelo dela atrás da orelha

- Posso te ver hoje de novo?
- Hoje?
- Passa o dia comigo?
- Por que?
- Por que não?
- Eu não disse não.
- Disse sim?
- Não.
- Mas passa?
- O quê?
- O dia comigo?
- Passo.

E ela sorriu.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Esquece e vai sorrir (Ludov)


Deixa eu te provar
Toda a mágica
E modificar essa história
Pois se eu não consigo ser
Simplesmente um bom amigo
É porque nem mal amigo eu posso ser
Deixa eu te provar
Não há lógica
Negligenciar toda a tática
E calar, pro nosso bem
Tudo aquilo que convém dizer
Quando eu entregar as flores pra você
Vai passar
E você nem vai lembrar
Vai passar, tudo passa
Vai passar
Pense em mim quando acabar
Vai passar, tudo passa
Deixa eu te provar
Uma lágrima
Pode derramar da memória
E trazer consigo as dores
De quem teve amores como eu
E não foi capaz de compreender
O que aconteceu
Vai passar
Tudo um dia há de acabar
Vai passar, tudo passa
Vai passar
E enfim, pra terminar
Vai sorrir e achar graça
Vai sorrir
E achar graça

domingo, 26 de abril de 2009

Sinestesia anestésica


E como menina ela correu pelas ruas, os pés batendo suavemente no cimento. Mas já não é mais uma menina. As ruas escuras e sujas, o cabelo cheira a cigarro, o esmalte vermelho descascado, o tênis surrado. O rímel que desce pelo rosto manchado de lágrimas que ela jurou que não ia derrubar. Não ia chorar, não podia chorar. Não mais. Não na frente dele. Mas as malditas insistiam em queimar. Então correu. Porque podia correr, e porque não podia mais suportar. O silêncio. A falta. O fim. Não podia suportar o fim.

Não é que não soubesse. Que não tivesse sentido. A falta de palavras. A falta de sentido. Os gestos vazios. A distância. A merda da distância que só aumentava. Mas não podia dizer. Não queria o fim. Mas o fim foi tudo o que restou. Foi então que ela correu.

Correu porque tinha que ir. Fugir. Porque não tinha motivo para voltar. Porque não tinha ninguém. E não se sentia ninguém.

Mas era. Só não sabia. Só não queria saber.

Sentou na calçada. Brincou com o gato. Perdido e sujo. Roeu as unhas. Acendeu um cigarro. Acendeu outro cigarro. Era um dia cinza. Ela odiava o calor nos dias tristes. Como se o universo tivesse de se aliar à sua melancolia. Sentiu-se melhor pelo dia ser cinza. Mexeu com o furo na meia. Pensou em ir embora. Não foi. Roeu mais as unhas. Sentiu frio. Acendeu mais um cigarro. Levantou-se.

O som de seus próprios passos a acalmava. Enquanto tivesse de andar, não precisava sentir. Mas sabia que um dia ia ter que parar de andar. Só não sabia como ia parar de sentir. Subiu as escadas. O pulso acelerado. Os olhos secos. As mãos no bolso. Colocou os cabelos atrás da orelha. A mão na maçaneta. Tirou. Colocou de novo. Abriu a porta. Ele já tinha saído. Ido embora. Na parede, um rabisco. Caneta preta. A letra dele. A música, não.

Meu amor, foi bom tentar, foi por um triz.

E tudo o que ela conseguiu pensar foi: Maldito, nem em uma hora como essa você consegue bolar palavras próprias pra dizer?

Realmente não há mais o que dizer. O que fazer. Faltam palavras. Faltam maneiras.

Mas ela já não precisa correr.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Pequenas epifanias


Coisas que devo lembrar...

- Todos se sentem, em agum momento, da mesma forma, só que não ao mesmo tempo.
- As pessoas são imprevisíveis.
- Deixar aconteceré melhor do que manter o controle.
- Nada, absolutamente NADA de bom pode vir de pensar demais.



Vá agora, e viva.

Experimente. Sonhe. Arrisque. Feche os olhos e pule. Aproveite a queda livre. Escolha a adrenalina ao invés do conforto. Escolha a mágica ao invés de predictabilidade. Escolha o potencial ao invés da segurança. Acorde para a mágica da vida a cada dia. Faça amigos usando apenas a sua intuição. Descubra a beleza no que é incerto. Confie no seu taco. Saiba exatamente quem você é antes de fazer promessas a outras pessoas. Cometa milhõe de erros para que você realmente saiba escolher quando realmente precisar. Saiba quando é hora de persistir e quando é hora de esquecer. Ame intensamente, frequentemente e sem reservas. Busque o conhecimento. Abra-se para possibilidades. Mantenha seu coração aberto, sua cabeça levantada e seu espírito livre. Abrace a sua escuridão junto à sua luz. Esteja errado de vez em quando, e não tenha medo de admitir. Acorde para a genialidade de momentos cotidianos. Diga a verdade sobre si mesmo a qualquer custo. Seja dono de sua própria realidade sem pedir desculpas. Seja ousado. Seja corajoso. Seja grato. Seja selvagem, louco e gloriosamente livre. Seja você.

Vá agora, e viva.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A beleza do que existe


Já cansei de ser o pierrot.


E num abrir de braços, ao abraçar tudo aquilo que é meu mas não me pertence, quero sentir o sabor da escolha. De escolher ser viva. De aceitar que amo, sofro, sinto e não calo. E não calo. Não calo.


Um dia, você há de abrir os olhos, e ver tudo assim. As matizes de cinza, o vermelho berrante, a turquesa no azul. Não como deveria ser. Mas como é. A beleza do que existe. E perceber que as sombras fazem seu papel. Elas me escondem quando eu já não posso mais fugir de mim. Elas me oferecem abrigo. Mas não são as sombras que me fazem viva. Proteger-se é impedir-se de sentir. E eu cansei dos meus próprios obstáculos. Não vou ser escrava das minhas próprias sombras.


Quero na vida o que existe, da forma como vier. Não há porque esperar por conclusões, ou uma moral da história. Não há conclusões na vida. Apenas interpretações.


E é por isso que vale a pena.



segunda-feira, 30 de março de 2009

Love, love, love, love

(Tradução livre)

Eu não ligo pro carro que você dirige, onde você vive. Nem ligo se você conhece alguém, que conhece alguém que conhece alguém. Se as suas roupas são o que há de mais atual no momento. Se você possui crédito ilimitado. Se você é A-list, B-list ou "nunca ouvi falar de você" list. A única coisa que importa pra mim são as palavras que voam da sua mente. Elas são a única coisa que você realmente possui. A única coisa que me fará lembrar de você. Eu não vou me apaixonar pela sua pele e pelos seus ossos. Eu não vou me apaixonar pelos lugares onde você já esteve. Eu não vou me apaixonar por nada exceto as palavras que voam dessa sua extraordinária mente.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Reflexos e reflexões sobre o vazio



Existe uma discrepância na forma como penso e percebo. Existe um vazio no que eu sinto. Não, na verdade, não existe um vazio no que eu sinto. Existe o vazio do que eu não sinto. Do que eu não consigo expressar em palavras. O vazio do que eu queria sentir, mas não tenho como. Não tenho o porquê. E aí fica tudo guardado. Em desuso. Incomodando. Machucando.
Às vezes fica fácil esquecer. Do vazio, quero dizer. Você não pára de viver por causa dele. Você ainda sai. Ri. Conversa. As vezes, até demais. Ri demais, bebe demais, sai demais. Porque o vazio tá lá. E tem sempre aquele momento em que a tua guarda baixa, e o vazio bate. Pesa. E você deseja sumir e reaparecer na sua cama. longe de tudo. De todos. Mas isso nem sempre acontece. As vezes o vazio fica lá, dormindo, por um tempão. Você acha que ele sumiu. Você acha que finalmente você está feliz com o que você tem. E tudo parece bem. E está bem. Mas o vazio volta. Sutilmente. Ou não. Pode ser uma fisgada no estômago. Pode ser uma lágrima no canto do olho. Pode ser um nó na garganta. Um pesar de pálpebras. Ou pode ser uma avalanche avassaladora de emoções. E o vazio. Novamente ele está lá. Novamente você lembra o que é conviver com ele.
Diariamente. Constantemente.
Existe uma falta de sentido nos nossos desejos.
Existe uma falta. E só.

domingo, 8 de março de 2009

All You Need Is Love?


Às vezes eu tento me convencer disso.
Na maior parte das vezes, não consigo.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Diálogos Inconclusivos Parte I


- Você bota medo nas pessoas, sabia?
- Eu?
- É.
- Mas ... porquê eu boto medo medo nas pessoas?
- Ah, não sei, as vezes elas acham que você é meio... ácida demais
- E desde quando isso assusta alguém?
-Assusta.
- Assusta?
- É.
- Que coisa mais estúpida, ter medo de palavras.
- Tá vendo!
- Vendo o quê?
- É por isso que as pessoas têm medo de você.
- Porque eu acho que elas são estúpidas?
- Bom, mais ou menos. É, de certa forma, sim.
- Isso não faz delas ainda mais estúpidas?
- (suspiro) Não né... se bem que... bom, pode ser... até que faz sentido.
- Não faz?
- Faz. Agora você paga a próxima rodada.
- Por que eu?
- Porque você me deu dor de cabeça.
- Estúpida.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Conclusões de um carnaval inexistente



Alguns copos
Alguns amigos
Risadas, mais copos
Ela se agarra à ilusão de estar livre
De amarras
De palavras
De sentimentos
Ela parece não sentir nada
Nada parece poder atingi-la


Suas atitudes extremas
Pensamentos reprimidos
Suas frases perfeitas
O humor ácido
O álcool e a ironia
Suas duas armas favoritas
O contexto do pretexto
A tal da diversão sem fim
E uma armadura de ferro disfarçada de cetim


Em um desses dias
Ela se viu sozinha
Paredes nuas
Verdades cruas
As unhas roídas
A verdade inegável


Ela não é de de aço
Ela não é de ferro
Ela tem medo
E sente a falta de sentir

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A realidade nas coisas







Adoro o som de passos na calçada. Me encanta a sinfonia cinzenta das ruas. As luzes que acendem, apagam. A cidade que não dorme. As paredes descascadas. Cerveja no copo de plástico.




E eu sinto que estou viva. No meio de todo o concreto, eu sinto que a vida fervilha a cada minuto. Há milhões de pessoas, lugares, visão, audição, tato, tudo à espera até dos mais desavisados. Todas as oportunidades. Todas as possibilidades.




Basta dizer sim.




E mergulhar no infinito.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Indagações e monólogos de uma segunda-feira


Hoje é um dia irrequieto.
Acordei esperando o impossível, sonhando com o inexprimível e querendo o intocável. Hoje não consegui construir o muro que me cerca e protege da chuva, dos ventos e outras intempéries. Abandonei os espinhos e deixei de lado a minha máscara.
O tempo corre, a vida passa, e de tempos em tempos eu me vejo assim, incapaz de fingir. De fugir. De não ser e não sentir. Em dias assim, não espero nada. Mas sonho. E meus pés se recusam a tocar o chão.
Dias assim passam. E eu volto ao meu chão.
Mas o mundo nunca me parece tão colorido e amargo quanto nesses dias irrequietos.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Diversos Singulares


Você olha pro lado, e está todo mundo ali. Dezenas, centenas de pessoas. Algumas você já deve ter visto diversas vezes. Mas nem percebeu. E, pra você, elas não são NIGUÉM. E você não significa nada para elas também. No banco. No metrô. No bar. Todos aqueles estranhos partilhando a sua realidade. Peraí, a SUA realidade?
Você já parou e se perguntou o quanto essas pessoas poderam significar pra você, caso elas fizessem parte da sua vida?
Você já imaginou tudo o que aquela pessoa que acabou de passar por você já viveu? O tanto que você poderia aprender com ela? O quanto que ela poderia aprender com você? Vocês poderiam ser grandes amigos. Amantes. Inimigos. Vizinhos. Mas ela só te pede licença, e você sai do caminho.
É estranho. É interessante. É esquisito.
Às vezes me bate essa consciência de que o centro do mundo não sou eu.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Garota do Pôster


A sua imagem
A minha imagem
A sua imagem de mim
A sua imagem à minha imagem
A minha imagem de ti

Suspiros
Lágrimas
E o fim

A sua imagem
A minha imagem
A sua imagem de mim
A sua imagem à minha imagem
A minha imagem de ti

Um sonho
A realidade
A ilusão que se desintegrou

A sua imagem
A minha imagem
E tudo o que o tempo apagou

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Crises existenciais de domingo à noite...


"- Você sabe o que eu quero ser? - perguntei a ela. Sabe o que é que eu queria ser? Se pudesse fazer a merda da escolha?" Seja lá como for, fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo... E eu fico na beirada de um precipicio maluco. Sabe o que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser o apanhador no campo de centeio." (J.D Salinger - O apanhador no campo de centeio)

As vezes a gente sente essa falta de algo que a gente sabe que nunca esteve lá. As vezes, a gente sente uma frustração enorme com o caminho que a gente mesmo escolheu. Olha para a sua vida. Eu olho para a minha, e sinto vontade de sair correndo. Sabe "Run, Forrest, run" e toda essa merda? Eu tenho vontade de fazer isso. Não porque eu odeie a minha vida, ou algo do tipo. Não é algo "oh, ela só quer atenção" ou, "dê-lhe-um-tanque-de-roupas-para-lavar-que-o-problema-está-resolvido". Eu só sinto como se... não fosse o bastante. Como se tudo isso fosse muito pouco. Quero dizer, de todas, TODAS as coisas que você poderia escolher fazer na sua vida, ISSO é o que você realmente teria escolhido? É isso que eu me pergunto. É isso que eu não consigo tirar da cabeça.

Não é a forma mais pragmática de pensar. Aliás, pensar raramente é algo pragmático. Principalmente se você, como eu, for alguém que pensa demais. Quer dizer, você pensa, pensa, pensa, e as coisas continuam iguais. Você sempre acha mais perguntas do que respostas.

E aí alguém chega e te diz que "tudo tem um motivo", e que "tudo dará certo no final". Quer dizer, ninguém conhece o final, muitas vezes sequer EXISTE um final, pelo menos da forma que o entendemos nos livros e filmes e histórias. Quantas vezes você viu o cara sair correndo atrás da mocinha e alcançá-la antes de que ela embarcasse no avião? Na maioria das vezes,a mocinha pegou o avião enquanto o cara ficou em casa lambendo as próprias feridas, com o orgulho ferido. Ou vice-versa. Não é uma questão de sexo. É uma questão de HUMANIDADE. A humanidade não sabe lidar com si mesma. Ela complica o que não precisaria ser complicado. Por quê? Porque ela pensa. E pensar é complicar.

E não é que eu seja contra toda essa história de pensar . Não sou a favor de uma sociedade ainda mais IGNORANTE do que a que já temos. É o bastante. Só estou dizendo que pensar machuca.

E que as vezes tudo o que seria necessário, para mim, é um sono de umas 2 semanas. Ou um seletor de memória. Tipo o capacete de Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, saca? Eu queria apagar algumas lembranças. Mesmo porque, hoje sinto minha cabeça cheia demais de pensamentos. E se tem um lugar que não dá pra fugir, é da sua própria cabeça.

Eu só queria um botão de pause, fast forward e rewind. Acho que um de mute também não seria uma má idéia.

Eu odeio domingos.


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O teu dom de se esconder de mim só é menor que o meu de não te achar


Pensamentos aleatórios, egotistas e fantasiosos sobre a rejeição, paranóia e outras patologias.

Na verdade, eu não sei se acredito em algo.
Não tenho coragem de ser cética.
E nem força pra acreditar em tudo.
Eu não ouço a minha intuição.

Você nunca está ali.
Só a minha imaginação.
Eu nunca sei o que pensar.
Você nunca sabe o que dizer.
Eu acordo todo dia.
Eu visto a máscara todo dia.
E você não me vê.

Se eu pudesse, faria música.
Se eu pudesse, escrevia um livro.
Se eu pudesse, pinatava quadros.

Mas acordo todo dia.
E você não me vê.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sonâmbula


Não é medo.
Nem falta de coragem.
Muito menos idealização.
Eu não sei ler pensamentos.
Eu não sei sentir pelos outros.
Eu não sei jogar.
Eu não quero jogar.
Não me peça para entender.
Se você me aponta duas direções.
Sua semântica não é a minha.
Seja claro, seja cruel, mas seja exato.
O que enlouquece é a falta de conclusão.
Não a realidade.
Acredite, não estou fugindo dela.
Só você.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Álcool e ironia



Buscando um novo rumo...

Um lugar distante, só meu. Não há ninguém por perto. Uma casa, e eu sei que é pra mim, sei que ela está lá pra mim. Eu entro, e as paredes são verdes. As janelas de madeira estão pintadas de roxo. Tem uma cama dentro do quarto, baixa, de aço, daquelas de hospital em filme da Segunda Guerra Mundial. Num armário velho e tombado em um canto, uma vitrola. E alguns discos. Escuto a voz de Billie Holiday arranhar o silêncio. E vejo que, embaixo da janela, há um baú. Velho, as arestas cor de cobre desacascadas. No baú, um diário. Um diário que conta toda a minha vida, em detalhes. Todos os erros, os acertos, tudo aquilo em que eu procurei não pensar está ali, escrito e registrado. Meus amores, minhas dores, minhas mentiras. Momentos em que eu não me orgulho de mim. Leio, paro, rôo as unhas. Tento dormir. Pego o diário de novo. Saio para dar uma volta. Volto a ler. Começo a rir, descontroladamente. Pulo capítulos. Largo novamente a leitura. Respiro fundo. Leio os capítulos que pulei. Sorrio involuntariamente em certas passagens. Dou socos na parede de ódio de outras. Mas continuo lendo. Sinto medo, vergonha, orgulho, alegria e a mais profunda tristeza enquanto mudo as páginas. Mas não posso mais parar de ler. Leio a descrição desse mesmo quarto, e do mesmo baú. Viro a página, e está tudo em branco. Aí penso.

Cada folha é originalmente branca. Cada folha originalmente, não contém uma história. Cada história não é feita de folhas, mas sim de palavras. Cada vida não é feita de dias, mas sim de escolhas. O problema é quando a gente tenta escrever por cima do que já passou. Ou quando a gente espera demais, e quando vê, o livro acabou. E a gente não escreveu nada.

Cada minuto, cada página é uma nova chance. A chance de uma vida.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

There's a poem that she wrote and hid under the mattress,
And if you find it please leave it alone.
With a picture she took of a girl on the subway,
With orange barrettes and the saddest face she's ever known.
As Rachael starts to wonder was it hers to begin with,
Or was the memory from someone else's sleep?'
Cause there's a hole in her heart that still harbors a question,
Whose answer just might break it so she's hanging on.
At least it's her to keep.
So I asked her...
"What if this does not belong to you,
And all these things you thought were true
Turned out to just be someone else's lies.
"Baby this does not belong to you,
This does not belong to you,
This does not belong to you.
There's a fleck in her eye that no one ever noticed,
A pretty birthmark for such a beautiful face.
All the men from her past seem to have left her abandoned,
I guess there's some things that you can never erase.
I've seen her play with her hair in a moment of tension,
I've seen her with her guard down ready to cry.
But there's a whole in her heart that still harbors the question,
Whose answer just might break it, still she's hanging on,'cause no one wants to die.
Then she asked me...
"What if this does not belong to you,
And all the things you thought were true
Turned out to just be someone else's lies?"
Baby this does not belong to you,
This does not belong to you,
This does not belong to you."
What if this does not belong to you,
And all the things you thought were true
Turned out to just be someone else's lies?"
'Cause baby this does not belong to you,
This does not belong to you,
This does not belong to you.
(Rachael - She Wants Revenge)

Sou eu.


quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

"And now we all know the words were true"


Não quero falar sobre o que já foi. Nem fazer um balanço sobre tudo o que aconteceu. Foi ruim, e foi bom. Mais bom do que ruim, no geral. E não quero fazer longas digressões sobre como "não foi bem assim". Foi o que foi, e o que significou no momento, embora agora seja apenas uma lembrança.

Incomodou. Doeu. Mas passou.

Mas não desejo suavizar, não quero que seja "e quando acaba a gente pensa que ele nunca existiu". Não há o que dizer. Não há o que fazer. Não há mais nada pra sentir. Mas eu não quero amenizar o que foi, pra mim, avassalador. Pois só o ser humano possui essa capacidade de deturpar emoções e situações já vividas. E pode tirar algo disso, ou pode não tirar nada.

A maioria não tira nada.

Fica por aí dizendo que, no fim das contas, perdeu seu tempo com algo que não valia a pena. Não vou dizer que não valeu a pena.

Foi real pra mim. Mas acabou. E ponto.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

She said unpredictability is my responsability, baby


"Great Expectations"


Tatral. Megalomaníaca. Síndome de Peter Pan. Não acredito em amor à primeira vista. Não sou legal. Não tô dando mole. Não sei sentar usando saia. Não penteio o cabelo. Sou indecisa. Sonho acordada. Ainda escuto Spice Girls. Choro em filme. Adoro contos de fada. Torço sempre pelo malvado. Surto uma vez por semana. Acho minha mãe o máximo. Tenho mesmo celular há 4 anos. Não fico brava com ninguém por mais de 24 horas. Uso xadrez com estampa de bolinha. Só raciocino depois do meio dia. E olhe lá. Toco air guitar, air bass, air drums e air piano. Rôo unha. Romântica incorrígível. Falo com a televisão e com o computador. Sempre esqueço a luz acesa. Queria ser o Iggy Pop. Sou grossa. Falo muito palavrão. Escrevo mas raramente deixo alguém ler. Mudo radicalmente de corte de cabelo pelo menos 3 vezes ao ano. Amo sorvete de pistache. Queria ser o Chaplin. Sarcasmo é a minha razão de viver. Amo fazer piadinhas politicamente incorretas. Sou fera em Pac Man. Nunca tô de bom humor. Não pratico o tal do pensamento positivo. Odeio quem grita 'Urrrul'. Gosto de autenticidade. Crio situações impossíveis. E falo pelos cotovelos, como dá para perceber....




Estou em constante crise, em constante construção e constantemente inconstante....

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

She buys a new dress for the party, she always looks good in red, turns around, in front of a mirror, and disappears inside of her head...


Não faço resoluções de ano novo.


Nem simpatias


Não uso branco


E não acho que é um recomeço


Todo dia pode ser um recomeço, ou mais uma porta pro final.


É só uma questão de se decidir.


Ou não.


De qualquer maneira, estabelecer objetivos não é minha cara.


Eu mudo todo dia (ou será que todo dia me muda?)