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sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lembranças e um maço de cigarros


E o que você fará agora?

Vai dançar na chuva descalço?
Beber vinho barato na calçada?
Inventar um sonho novo?
Ler o mesmo livro pela décima vez?
Gritar até a garganta doer?

Vai querer estar sozinho?
Vai chorar por estar sozinho?
Vai lembrar da infância
e pensar que foram os melhores dias?

Vai encontrar os amigos
e rir até a barriga doer?
Vai olhar pra trás
e achar que está mais sábio?
Vai pensar em mim
e achar que valeu a pena?

Vai sorrir de leve
Fechar os olhos por um segundo
E mais uma vez
Só mais uma vez
pela última vez
Me diga, vai pensar em mim?

E eu, o que vou fazer?
Não sei
Talvez eu vá embora
Carregando comigo lembranças
E um maço de cigarros
Pra lembrar da vida que tem fim
Mas nunca acaba



domingo, 26 de abril de 2009

Sinestesia anestésica


E como menina ela correu pelas ruas, os pés batendo suavemente no cimento. Mas já não é mais uma menina. As ruas escuras e sujas, o cabelo cheira a cigarro, o esmalte vermelho descascado, o tênis surrado. O rímel que desce pelo rosto manchado de lágrimas que ela jurou que não ia derrubar. Não ia chorar, não podia chorar. Não mais. Não na frente dele. Mas as malditas insistiam em queimar. Então correu. Porque podia correr, e porque não podia mais suportar. O silêncio. A falta. O fim. Não podia suportar o fim.

Não é que não soubesse. Que não tivesse sentido. A falta de palavras. A falta de sentido. Os gestos vazios. A distância. A merda da distância que só aumentava. Mas não podia dizer. Não queria o fim. Mas o fim foi tudo o que restou. Foi então que ela correu.

Correu porque tinha que ir. Fugir. Porque não tinha motivo para voltar. Porque não tinha ninguém. E não se sentia ninguém.

Mas era. Só não sabia. Só não queria saber.

Sentou na calçada. Brincou com o gato. Perdido e sujo. Roeu as unhas. Acendeu um cigarro. Acendeu outro cigarro. Era um dia cinza. Ela odiava o calor nos dias tristes. Como se o universo tivesse de se aliar à sua melancolia. Sentiu-se melhor pelo dia ser cinza. Mexeu com o furo na meia. Pensou em ir embora. Não foi. Roeu mais as unhas. Sentiu frio. Acendeu mais um cigarro. Levantou-se.

O som de seus próprios passos a acalmava. Enquanto tivesse de andar, não precisava sentir. Mas sabia que um dia ia ter que parar de andar. Só não sabia como ia parar de sentir. Subiu as escadas. O pulso acelerado. Os olhos secos. As mãos no bolso. Colocou os cabelos atrás da orelha. A mão na maçaneta. Tirou. Colocou de novo. Abriu a porta. Ele já tinha saído. Ido embora. Na parede, um rabisco. Caneta preta. A letra dele. A música, não.

Meu amor, foi bom tentar, foi por um triz.

E tudo o que ela conseguiu pensar foi: Maldito, nem em uma hora como essa você consegue bolar palavras próprias pra dizer?

Realmente não há mais o que dizer. O que fazer. Faltam palavras. Faltam maneiras.

Mas ela já não precisa correr.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Reflexos e reflexões sobre o vazio



Existe uma discrepância na forma como penso e percebo. Existe um vazio no que eu sinto. Não, na verdade, não existe um vazio no que eu sinto. Existe o vazio do que eu não sinto. Do que eu não consigo expressar em palavras. O vazio do que eu queria sentir, mas não tenho como. Não tenho o porquê. E aí fica tudo guardado. Em desuso. Incomodando. Machucando.
Às vezes fica fácil esquecer. Do vazio, quero dizer. Você não pára de viver por causa dele. Você ainda sai. Ri. Conversa. As vezes, até demais. Ri demais, bebe demais, sai demais. Porque o vazio tá lá. E tem sempre aquele momento em que a tua guarda baixa, e o vazio bate. Pesa. E você deseja sumir e reaparecer na sua cama. longe de tudo. De todos. Mas isso nem sempre acontece. As vezes o vazio fica lá, dormindo, por um tempão. Você acha que ele sumiu. Você acha que finalmente você está feliz com o que você tem. E tudo parece bem. E está bem. Mas o vazio volta. Sutilmente. Ou não. Pode ser uma fisgada no estômago. Pode ser uma lágrima no canto do olho. Pode ser um nó na garganta. Um pesar de pálpebras. Ou pode ser uma avalanche avassaladora de emoções. E o vazio. Novamente ele está lá. Novamente você lembra o que é conviver com ele.
Diariamente. Constantemente.
Existe uma falta de sentido nos nossos desejos.
Existe uma falta. E só.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Indagações e monólogos de uma segunda-feira


Hoje é um dia irrequieto.
Acordei esperando o impossível, sonhando com o inexprimível e querendo o intocável. Hoje não consegui construir o muro que me cerca e protege da chuva, dos ventos e outras intempéries. Abandonei os espinhos e deixei de lado a minha máscara.
O tempo corre, a vida passa, e de tempos em tempos eu me vejo assim, incapaz de fingir. De fugir. De não ser e não sentir. Em dias assim, não espero nada. Mas sonho. E meus pés se recusam a tocar o chão.
Dias assim passam. E eu volto ao meu chão.
Mas o mundo nunca me parece tão colorido e amargo quanto nesses dias irrequietos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Garota do Pôster


A sua imagem
A minha imagem
A sua imagem de mim
A sua imagem à minha imagem
A minha imagem de ti

Suspiros
Lágrimas
E o fim

A sua imagem
A minha imagem
A sua imagem de mim
A sua imagem à minha imagem
A minha imagem de ti

Um sonho
A realidade
A ilusão que se desintegrou

A sua imagem
A minha imagem
E tudo o que o tempo apagou

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O teu dom de se esconder de mim só é menor que o meu de não te achar


Pensamentos aleatórios, egotistas e fantasiosos sobre a rejeição, paranóia e outras patologias.

Na verdade, eu não sei se acredito em algo.
Não tenho coragem de ser cética.
E nem força pra acreditar em tudo.
Eu não ouço a minha intuição.

Você nunca está ali.
Só a minha imaginação.
Eu nunca sei o que pensar.
Você nunca sabe o que dizer.
Eu acordo todo dia.
Eu visto a máscara todo dia.
E você não me vê.

Se eu pudesse, faria música.
Se eu pudesse, escrevia um livro.
Se eu pudesse, pinatava quadros.

Mas acordo todo dia.
E você não me vê.